Ode
Visto-me da ode ao amanhecer
Envolta em mil pedaços de terna bruma
Esqueço dos meus sonhos que, em suma,
Dariam para o verso acontecer.
Volteio na onda do entardecer
Laboro como nada ou coisa alguma
Me dou inteira e a tese esfuma
À volta do que está por suceder.
Apanho o sal do pranto ineficaz
Da onda que braceja como lume
No peito que ainda arde em ciúme.
E assim, solenemente, corre a paz
Da ode que não fiz, nem sei fazer,
Em tanto do que fica por dizer!
Rosa Silva ("Azoriana")