Para a Rádio Voz dos Açores, de Euclides Alvares: Era uma vez nas Lajes (da ilha Terceira)
Pelo que sei, minha mãe,
Havia de ter três anos,
Quando a Base nasce bem
Com ingleses e americanos.
Ao lado de carros "feios"
Se viam carros de bois,
Que, para mim, eram asseios,
Dos nossos velhos heróis.
Chapéu, colete e casaco,
Aguilhada sempre à mão,
Tantas vezes com o saco
Vazio de opinião.
Lá se foi fazendo a pista,
Para aterrar aviões
E as Lajes foi conquista
De duas grandes nações.
E nossas mulheres lavavam
A roupa dos militares
Creio que algumas casavam
Sonhando com ricos lares.
O meu pai, mais tarde, vem,
Para trabalhar na Base,
Conheceu a minha mãe
Já em outra nova fase.
Do Pico para a Terceira,
E de outras ilhas mais,
Veio tanta gente ordeira,
Com desejos laborais.
E as Lajes incutiu
Na mente do pessoal
Que o novo desafio
Era pra bem e menos mal.
Entretanto, a vida corre,
Em caminhos diferentes,
O que foi bom, até morre,
E salvem-se, ora, as gentes.
Quem pudesse adivinhar
O paraíso na terra
E de vez o mal acabar
Com o fim de tanta guerra.
Rosa Silva ("Azoriana")