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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1006)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor"

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Retrospetiva: A Serreta vista por Vasco Pernes, da Antena 1 Açores

04.06.13 | Rosa Silva ("Azoriana")

Na rádio pública dos Açores, Antena 1, aos domingos, Vasco Pernes mete-se com “Gente Franca” e dá-nos retalhos de boas conversas com convidados especiais.

A 11 de setembro de 2011, fui encontrar a Serreta, sua fé e devoção no centro de toda a emissão. Tentei captar, por escrito, o que Vasco Pernes deliciosamente nos deu oralmente, de gente que sente e fala a nossa língua:

«Falamos agora das Festas da Serreta

Das peregrinações ao Santuário de Nossa Senhora dos Milagres mas também da festa profana que por estes dias faz com que todos os caminhos da ilha Terceira sigam para a Serreta. Seja qual for a hora do dia ou da madrugada é impressionante assistir aos milhares de pessoas que formam um quase ininterrupto cordão de gente que chega a pé à Serreta. Quilómetros que se fazem sozinho ou em grupo, ou com amigos ou com a família, por devoção, por tradição ou, simplesmente porque se sente a necessidade de ir à Serreta.

Muita gente nova, talvez mais jovens do que gente de mais idade; e pelo caminho estão as tascas, muitas tascas para ajudar a aliviar o corpo e transformar a romaria numa festa. E quando os pés já não aguentam há sempre por perto os postos da Cruz Vermelha Portuguesa dos Açores. Os motivos que levam os peregrinos à Serreta podem ser tantos e tão diferentes. (…) [pausa para uma entrevista a uma peregrina, Dina Pereira, que fazia 25 anos de ir à Serreta a pé]. “Eu tenho que vir, a promessa tem que ser paga”.

Testemunhos como este, podíamos encontrá-los aos milhares, cada um com o seu motivo, cada um à sua maneira, seja por devoção, seja para participar apenas na Festa. E a Festa faz-se também fora do Santuário. O Maurício Toledo faz parte da Comissão. Bom, foi quase obrigado porque é casado com a Mordoma das Festas deste ano. Mas falámos com ele ali ao pé do Império sobre a Festa que vai para além da fé em Nossa Senhora dos Milagres.

(…) [pausa para a entrevista a Maurício Toledo, esposo da Marlene Ormonde]. “A gente tenta manter sempre a tradição. A gente o que pode alterar aí é o programa das vinte e duas horas durante todos os dias…” “Basicamente, a tradição é sempre seguida”. “Esta freguesia é uma freguesia muito pequena, como sabe. Receber a multidão da ilha Terceira toda aqui é um motivo de muito orgulho para a gente. A gente fica mesmo muito contente de receber as pessoas todas, vê-se essas ruas cheias. Não é fácil ver essas ruas cheias, que elas estão quase sempre é vazias. E nesses dias é magnífico ver isso da maneira que está.” “Esse ano a gente fez uma aposta muito forte no Fado”… “A nossa tourada lá no Pico, não é derivado aos toiros que ela é conhecida mas devido àquele conjunto de massa humana que se junta lá.”… “Temos que trabalhar em conjunto com o Padre da freguesia. Ele tem que estar sempre a par daquilo que a gente faz, derivado ao respeito que ele tem na freguesia e também devido ao apoio que ele nos dá para a outra parte, conseguimos conciliar as duas situações” …“O fogo é uma das partes mais importantes que a gente tem. Dizem quando a Santa fica virada para a Igreja que o resto da Festa está garantido. Vamos a ver…”

As emoções de cada um dos milhares de peregrinos que por estes dias estão espelhadas na vontade de agradecer à Senhora dos Milagres. Uma promessa que se paga ou simplesmente uma tradição que se cumpre. Nas Festas de Nossa Senhora dos Milagres ir à Serreta faz-se num misto de fé, de peregrinação ou de festa e convívio, onde não importam os quilómetros que se façam ou a forma como se fazem. Importa que se vá, seja qual for o motivo.

E ali mesmo, atrás do Santuário há um cheiro a velas a queimar. Os devotos, em silêncio, acendem uma vela, ou mais do que uma. O espaço é pequeno para milhares de velas e por isso, ali está o Sr. José Romeiro, que é Romeiro de nome porque não tem tempo para romarias. É ali duma freguesia perto mas gosta de ajudar a organização sempre que pode e este ano calhou-lhe tomar conta do espaço das velas. O amigo José Romeiro diz que não tem tempo para romarias mas lá estava ele…

(…) [entrevista] “Há muita gente que não tem noção do que se passa”

E não tendo noção vão com certeza percebendo que as coisas acontecem nesta e noutras festas graças à boa vontade de muita gente. A Serreta recebe os peregrinos ao mesmo tempo que se prepara para os dias da sua padroeira, mesmo que sejam da terra ou dali perto, como é o caso do Luís Nogueira que nos fala da sua devoção.

(…) [entrevista] “Todos os anos que possa vou cumpri-la” - a promessa. “Gosto da Senhora dos Milagres… Gosto muito dela”; “uma festa destas chama muita gente”; “há muita fé na Nossa Senhora dos Milagres”.

E lá estava a Filarmónica da Serreta a atuar no seu melhor até com convidados especiais, porque esta Filarmónica acabou também por se especializar um pouco mais na festa taurina, na festa dos toiros, estiveram até há bem pouco tempo na famosa corrida no Campo Pequeno representando a música dos Açores e essa parceria com a Banda de Alcochete trouxe ontem, por exemplo, um dos principais trompetistas daquela Banda, José Manuel Raminhos, foi convidado para estar presente e escreveu até alguns passo-dobles a propósito para a Banda da Serreta que foram apresentados pela primeira vez nas festas deste ano.

E o Santuário, o Santuário ali está e vai ganhando cada vez mais vida. Serve de porto de abrigo a quem chega e, lá dentro, depois de ter sido porto de chegada é também um momento obrigatório para alguns minutos de reflexão.

Há uma Comissão que na Serreta está encarregue da parte religiosa da Festa. O Ricardo Meneses é um dos elementos desta Comissão da Igreja.

(…) [entrevista]. “Todos os caminhos vem dar à Serreta”… “É uma freguesia pequena, e nessa altura, toda a gente se lembra da Serreta, e isso é um orgulho para nós que temos aqui a Nossa Senhora dos Milagres”… “Já não temos muito espaço, só se a gente alargar a Igreja” (ouve-se o seu leve riso)… “Da Comissão da Igreja este é o primeiro ano” disse Ricardo Meneses a dada altura da entrevista; “Por aquilo que vejo, tem muita gente nova, jovens que vem pagar as suas promessas… e também tem pessoas mais idosas que vem todos os anos já estão efetivos aqui” (e volta-se a ouvir o seu riso com gosto)… “A gente nomeia uns colaboradores para ajudarem… na sacristia, temos umas senhoras que dão chá às pessoas, lavam os pés se as pessoas tiverem muito cansadas dos pés… Pronto, temos a ajuda da freguesia toda”… “As pessoas às vezes dizem que estão a perder a fé mas eu não acho isso. Cada vez tem vindo mais gente à Igreja fazer a sua devoção à Nossa Senhora e acho que isso nunca se vai perder”.

As orações são acompanhadas por muitas emoções fortes, as lágrimas ali são de agradecimento, ou de tristeza, ou de alegria, de esperança são quase sempre mas nunca de desilusão, porque quem percorre os caminhos da ilha Terceira até à Serreta quase nunca o faz só uma vez e o que sente quando ali chega justifica bem a caminhada.

Frente ao Império há Fados para ver e ouvir na festa da Serreta e na segunda-feira, a tal segunda-feira da Serreta, o dia passa-se no mato em família, com amigos e ao fim da tarde há toiros no Pico, no Pico da Serreta, claro está.»

Gente Franca, gente que sente e fala a nossa língua. Gente Franca, na Antena 1 Açores.

11.setembro.2011